Raça e Classes
A relação entre as deisgualdades e as questões raciais voltou a ser analisada na década de 1950,numa perspectiva que envolvia a situação dos negros na estrutura social brasileira.São exemplos os trabalhos de Luiz Aguiar Costa Pinto,que em 1953 publicou O negro no Rio de Janeiro,e de Roger Bastide e Florestan Fernades,que também em 1953 lançaram o livro Negros e Brancos em São Paulo.Eles abordaram essa questão do ponto de vista das deisgualdades sociais,procurando desmonatr o mito da democracia racial brasileira,e colocaram o tema da raça no contexto das classes sociais.
Na década de 1960,alguns trabalhos podem ser tomados como exemplos da continuidade dessa discussão.Florestan fernandes(A integração do negro na sociedade de classes),Octávio ianni(Matemorfose do escravo e Fernando Henriique Cardoso(capitalismo e escravidão no brasil meridional)analisaram a situação dos negros no Sudeste e no Sul do Brasil.Muitos outros autores,desde então,analisaram essa questão,que continua presente no nosso cotidiano.
Fome e Coronelismo
A partir da década de 1940 a questão das desigualdades sociais aparecia sob novo olhar,que passava ainda pela presença 1do latinfúdio,da monocultura e também do subdesenvolvimento.Em seus livros Geopolitíca da Fome,publicados respectivamente em 1946 e 1951,Josué de Castro procurou analisar a questão da desnutrição e da fom das classes populares,explicando-as com base no processo de subdesenvolvimento,o qual gestava desigualdades econômicas e sociais entre os povos que, no passado tinham sido alvo da exploração colonial no mundo capitalista.defendia a educação e a reformaagrária como elementos essenciais para resolver o problema da fome no Brasil.
O outro autor,Victor Nunes leal, em seu livro Coronelismo,enxada e voto: O município eo regime representativo no Brasil, publicado em 1948,apresentava o Coronel vinculado á grande propriedade rural,principalmemte no Nordeste,como a base de sustentação de uma estrutura agrária que mantinhas os trabalhadores rurais em uma situação de penúria,de abandono e de ausência de educação.
As Desigualdades analisada no Brasil
Conforme a cientista social brasileira Márcia Anita Sprandel,em seu livro A Pobreza no Paraíso Tropical,a primeira tentativa de explicar a pobreza no Brasil,a partir do final do século XIX,constituiu em relacioná-la á influência do clima e á riqueza das matas e do solo.Afirmava-se que o brasileiro era preguiçoso,indolente,superticioso e ignorante porque a natureza tudo lhe dava: frutos,plantas,solo fértil,etc.Era tão fácil obter ou produzir qualquer coisa que não havia necessidade de trabalhar.
Uma segunda explicação estava vinculada á questão racial e á mestiçagem.Vários autores,como Nina Rodrigues,Euclides da Cunha,Sílvio Romero e Capistrano de Abreu,foram críticos ferrenhos da mestiçagem e consideravam que os mestiços demonstravam a "degeneração e a falência da nação" ou que eram"decaídos,sem a energia física dos ascendentes selvagens,sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores".
Entretanto,dois autores daquela época faziam análises diversas: Joaquim Nabuco e Manoel Bonfim.Nabuco afirmava que,graças á raça negra,havia surgido um povo no Brasil,mas que a escravidão e o latifúndio geravam verdadeiras "colônias penais" no interior,pois os latifundiários eram refratários ao progresso e apenas permitiram que os mestiços vivessem como agregados e seus dependentes,na miséria e ignorância.
Bonfim,por sua vez,via o sertão nordestino como uma "terra de heróis".Dizia que as populações do interior tinham muita força,cordialidade e uma capacidade de atuar coletivamente, seja pelo uso comum de suas posses.
A pobreza seria sempre um dos elementos essenciais dessa explicação,e uma decorrência da escravidão ou da mestiçagem.As chamadas "classes baixas" constituíam-se de pessoas que normalmente,nas cidades,eram consideradas perigosas e,no interior,apáticas,doentes e tristes.
As Desigualdades Sociais no Brasil
Analisando historicamente a questão das desigualdades sociais no Brasil,percebe-se que,com a chegada dos portugueses,elas se intalaram e aqui ficaram.Inicialmente,os povos indígenas que habitavam o continente foram vistos pelos europerus como seres diferentes,não dotados de alma.Depois se alterou essa concepção,masainda há quem veja os indígenas preconceituosamente,como inferiores e menos capazes.
Posteriormente,houve a introdução do trabalho escravo negro.Milhares de africanos foram retirados de sua terra de origem para enfrentar condições terríveis de trabalho e de vidano Brasil.Até hoje seus descendentes sofrem discriminação e preconceito pelo fato de serem negros.
De meados do século XIX,quando já se previa o fim do trabalho escravo,até o início do século XX,incentivou-se a vinda de imigrantes europeus,sobretudo para o trabalho na lavoura de café.Muitos vieram em busca de trabalho e de melhores chances na vida,mas aqui encontraram condições de trabalho semisservis nas fazendas de café.Em muitos casos,a família inteira trabalhava e não chegava a receber renumeração em dinehiro-apenas comida,casa e outros pagamentos em espécie.
Á medida que a sociedade brasileira se industrializou e se urbanizou,novos contigentes populacionais foram ,absorvidos pelo mercado de trabalho nas cidades.Esse processo iniciou-se nos primeiros anos do século XX,acelerando-se na década de 1950,quando se desenvolveu no país um grande esforço de industrialização,trazendo junto a urbanização.Criou-se assim um proletariado industrial,e milhares de outros trabalhadores foram atrídos para as cidades a fim de exercer as mais diversas atividades: empregados do comércio,bancários,trabalhadores,etc.
Com as transformções que ocorreram a partir de então,houve um crescimento vertiginoso das grandes cidades e um esvaziamento progressivo da zona rural.Como nem toda a força de trabalho foi absorvida pela indústria e pelos setores urbanos,e por causa da modernização da agricultura,foi-se constituindo nas cidades uma grande massa de desemrpegados,de semiocupados que viviam e vivem á margem do sistema produtivo capitalista.
Hoje,com os avanços tecnológicos,essa massa de individuos praticamente não encontra chance de emprego,por tratar-se de mão de obra desqualificada.
Além da fome,defrontamos com outros indicadores das desigualdades que permeiam nosso cotidiano.As estatísticas sobre as desigualdades sociais no Brasil estão nos jornais e nas revistas, e demonstram que a gravidade do problema é tal que,se há alguma coisa que caracteriza o Brasil nos últimos anos,é sua condição como um dos países mais desiguais do mundo.Além das desigualdades entre as classes sociais,há outras indiferenças-entre homens e mulheres e entre negros e brancos,por exemplo.
Isso não se traduz só em fome e miséria,mas também em condições precárias de saúde,de habitação,de educação,enfim,em uma situação desumana.
A Guerra do Contestado
Entre 1912 e 1916 ocorreu um grave conflito numa região disputada de Santa Catariana e Paraná e ,por essa razão,denominada Contestado.Em torno de um lider messiânico,chamado Monge José Maria,agruparam-se posseiros expulsos de suas terras,devido á construção de uma ferrovia e á ação dos coronéis locais,e trabalhadores desempregados depois do término da construção de uma ferrovia.marginalizando e empobrecidos ,os sertanejos perambularam por localidades disputadas por catarinenses e paranaenses.Num conflito com esses últimos,apossaram-ese de armas e iniciaram uma organização militar.Da mesma forma que no episódio de Canudos,o governo federal entendeu que se tratava de um movimento de inspiração monarquista.A guerra do contestado durou cerca de quatro anos.Além de seus efetivos militares,o governo chegou a se utilizar de aviões para bombardear os rebeldes.Como no Rio de janeiro em 1893,as forças militares brasileiras bombardeavam seu próprio povo.Como em Canudos,o massacre foi brutal.
Se a religiosidade praticada em torno do Padre Cícero presupunho a uma aceitação das régras politicas e sociais do pais,uma outra figura,muito mais controversas como arma de contestação social. Antônio Vicente Mendes Maciel,nasceu em 1828 em Quixeramobim;interior do Ceará.Tornou-se beato e pregador em 1972,depois de abandonado por sua mulher.
Foi preso diversas vezes, acusado de perturbar a ordem pública e de encorajar a desobediência ás instituições civis e religiosas.Apesar disso,sua fama se alastrou pelo nordeste.Por muitos era tido como profeta,um homem de Deus.
Após a proclamação da República,Conselheiro e alguns de seus seguidores reagiram publicamente á cobrança de impostos pelos governo.Numa localidade baiana,queimaram os editais em uma ruidosa manifestação.O governo enviou,para prendê-lo,uma tropa com 35 soldados que acabaram derrotados pelos fieis.Com seus seguidores ergueu um arraial, próximo a um rio chamado Vaza-Barris,onde havia umas poucas e humildes casas habitadas por algumas famílias.A região era árida,o solo pedregoso e,durante as épocas de seca prolongada,a água só era obtida em pequenas poços perfurados no fundo do ressecado leito do rio.Antônio Conselheiro chamou a localidade de Belo Monte,mas. devido á abundância de um tipo de vegetação denominado Canudo-de-Pito, o Lugar ficou conhecido como Canudos.
Se a região não correspondia ás antigas,mas sempre repetidas,descrições do Paraíso Terrestre,com farta vegetação,riquezas e rios de leite e mel,os seguidores de Conselheiro tornaram-no um próspero povoado.Com o trabalho comunitário,os habitantes de Canudos dedicavam-se á pecuária e á agricultura e praticavam o comércio com as cidades vizinhas.Uma parte de que todos produziam era destinada a um fundo comum,cuja função era amparar os habitantes mais necessitados e realizar as "grandes" obras: a igreja e a escola.O acesso á terra e o trabalho comunitário tornaram Canudos a segunda maior cidade da Bahia,onde, curiosamente,não circulavam dinheiro.
A existência de uma comunidade que não se encontrava a mercê dos coronéis e escapava ao controle do Estado e da igreja foi entendiada como uma ameaça.De certo modo,era verdade .Canudos transformou-se na concretização do sonho dos sertanejos de ter uma vida com mínimo de dignidade.
Em novembro de 1896 foi enviada uma primeira expedição militar a Canudos.A vitória dos conselheiristas aumentou o temor das autoridades.Aumentou também a popularidade do beato no Nordeste.Em janeiro do ano seguinte, uma nova expedição, com cerca de 600 homens armados,foi igualmente derrotado.Em fevereiro,foi organizada a terceira expedição,com cerca de 1200 soldados e forte armamento,incluindo quatro canhões,sob as ordens do Coronel Antônio Moreira César,vitorioso comandante de tropas do Exército contra os federalistas no Sul.A derrota foi fragorosa.
Na capital Federal em nas grandes cidades brasileiras corriam boatos sobre a ajuda que os habitantes de Canudos estariam recebendo dos monarquistas,a fim de derrubar a República.A comunidade de vaza-Barris era,no começo de 1897,a própria encarnação do mal, a antítese da legalidade republicana. Enfurecidos,grupos republicanos atacavam portugueses e baianos no Rio de Janeiro,por serem identificados como monarquistas e conselheiros.Novamente os Jacobinos brasileiros sairam as ruas em defesa da República.Em pronunciamente á nação,divulgado pelos jornais,o presidente Prudente de Morais anunciou que o Exército "destroça-rá os que ali estão envergonhando a nossa civilização".
Após cerca de quatro meses, em outubro do mesmo ano,foram lançados as ofensivas finais. umas mês antes morrerá Antônio Conselheiro.As esperanças se perdiam para a comunidade.Aceitando um acordo proposto pelo comandante militar,um grupo de 1000 pessoas,compostos de mulheres,crianças e velhos,na maioria ,resolveu se entregar.Foram todos assassinados e tiveram seus corpos queimados.Os demais cercados pela forças militares,foram praticamente dizimados pela ofensiva.As cenas retratadas pelos jornalistas que acompanhavam a expedição são de extremo horror.Como de horror foi o destino das meninas da comunidade,vitima de estupros e muitas delas obrigadas pelos soldados a se prostituirem.
No Rio de Janeiro,o clima de comemoração foi interrompido por um fracassado atentado ao presidente Prudente de Morais, possivelmente organizado pelos Jacobinos.Em Canudos,a destruição foi completa.Mesmo assim,12 anos depois,alguns seguidores do Conselheiro voltaram a habitar a região.O nome do beato permanece ,até hoje,carregado por lendas milagrosas,no imaginário popular nordestino.E a questão da terra no Brasil permanece em aberto.